sexta-feira, 29 de março de 2013

BRIGA NA PROCISSÃO DA VIA-SACRA

Quando Palmeiras das Antas Pertencia ao Capitão Justino Bento da Cruz Não faltava diversão, Vaquejada, cantoria, Procissão e romaria: Sexta-Feira da Paixão. Na quinta-feira maior, Dona Maria das Dores No salão paroquial Reunia os moradores E após uma preleção Ao lado do Capitão Escalava a seleção De atrizes e de atores. O papel de cada um O Capitão escolhia. A roupa e a maquiagem Eram com Dona Maria. E o resto era disccutido, Aprovado e resolvido Na sala da sacristia. Todo ano era um Jesus, Um Caifás e um Pilatos. Só não mudava a Cruz E o verdugo e os maus tratos. O Cristo daquele ano Foi o Quincas Beija Flor, Caifás foi Cipriano E Pilatos, Nicanor. Duas cordas paralelas Separavam a multidão, Pra que pudesse entre eles Caminhar a procissão. O Cristo carregando a cruz, Foi não foi, advertia O centurão perverso Que com força lhe batia. Era pra bater maneiro Mas ele não entendia Devido ao grande pifão Que tomou naquele dia Do vinho que o capelão Guardava na sacristia. E o Cristo dizia: “Oh, rapaz vê se bate devagar”. “Já to todo encalombado, Assim não vou agüentar, Ta com gota pra doer. Ou tu pára de bater Ou a gente vai brigar. Jogo já esta cruz fora, To ficando revoltado, Vou morrer antes da hora De morrer crucificado”? Mas o pior que o malvado Fingia que não ouvia, Alem de bater com força Ainda se divertia. Espiava pra Jesus Carregando aquela cruz, Fazia pouco e dizia: “Que Cristo frouxo é você Que chora na procissão”? E Jesus, pelo que se sabe, Não era mole assim não. “Eu to é com pena, Tu vai ver o que é bom É na subida da ladeira Da venda de Fenelon Que o couro vai ser dobrado Até chegar no mercado A cuíca muda o tom”. Neste momento ouviu-se Um grito na multidão. Era Quincas que com raiva Sacudiu a cruz no chão E partiu feito maluco Pra cima do Bastião. Se travaram no tabefe Pontapé e cabeçada. Madalena levou pancada, Deram um bofete em Caifás Que até hoje não faz Nem sente gosto de nada. Desmancharam a procissão O cacete foi pesado. São Tomé levou um tranco Que ficou desacordado. Acertaram um cocorote Na careca do Timote Que até hoje está aluado. Até mesmo São José Que não é de confusão, Na ânsia de defender O filho de criação, Aproveitou a guararapa Pra dar um monte de tapa Na cara do bom ladrão. A briga só terminou Quando o doutor Delegado Interveio e separou: Cada um pro seu lado! Desde que o mundo se fez Foi esta a primeira vez Que o Cristo foi pro xadrez Mas não foi crucificado. Chico Pedrosa